ASANAS
Os asanas (pronuncia-se ássanas), são a parte mais conhecida da Yoga no ocidente. São as famosas posturas psicofísicas, aliadas importantes daquele que deseja progredir no caminho do auto-conhecimento.
No nível físico, os asanas promovem a saúde de todos os sistemas orgânicos, aumentando a imunidade, a capacidade digestiva e respiratória. Regulam as funções hormonais, restabelecem e protegem o sistema nervoso, fortalecem os ossos, dão firmeza e resistência aos músculos, promovem a saúde das articulações aumentando a flexibilidade do corpo, e favorecem a eliminação de toxinas pelo sistema excretor, trazendo para o corpo vitalidade e beleza.
No nível energético, os asanas promovem a livre circulação do prana por todo o corpo, ativando os chacras, desobstruindo os canais de energia e estimulando os vayus. Permitindo com que o praticante leve a consciência para cada parte do corpo.
No nível psíquico, os asanas trazem clareza e vigor mental, eliminando as distrações e o conseqüente desperdício de energia. Além disso, proporcionam conforto e bem-estar eliminando estados mentais como desânimo, depressão, desamparo, desespero, fadiga crônica, síndrome do pânico, melancolia, raiva, mágoa, ressentimento e rancor.
Entretanto, os asanas são apenas uma das ferramentas que a Yoga oferece no caminho de auto-conhecimento e auto-realização. Seria ingênuo afirmar que somente com a prática de asanas é possível remover todos os obstáculos que se colocam no caminho do praticante. O que eles oferecem é uma resistência física maior, e uma mente mais focada e estável para que a pessoa siga com mais conforto e determinação na sua busca por livrar-se das amarras mundanas e retornar à Deus, o Absoluto, a Suprema Realidade Original.
Como dito anteriormente, a prática de asanas deve ser feita com muita atenção, observando as mudanças na respiração e mantendo uma mente atenta. Lembramos que o prana é o veículo da consciência, e dessa forma, onde há consciência há energia. Portanto quando levamos a nossa atenção a uma parte qualquer do corpo, o prana flui naturalmente para ali. Maior benefício trará a prática de asanas se em cada postura o praticante estiver consciente do seu corpo como um todo. Essa atitude fará também com que o praticante respeite os seus limites evitando lesões e desgastes desnecessários enquanto pratica os assanas.
Podemos dividir os asanas em oito categorias diferentes:
1- posturas em pé: fortalecem e alongam as pernas, equilibram, centralizam e fortalecem o tronco. Ex: tadasana, chandrasana, virabhadrasana.
2- posturas de equilíbrio: fortalecem as pernas, centralizam o corpo, proporcionam equilíbrio e firmeza para o corpo e para a mente. Ex: vrksana, natarajasana.
3- posturas de equilíbrio dos braços: fortalecem os braços e o peito, proporcionam equilíbrio e firmeza, desenvolvem determinação e perseverança. Ex: kakasana.
4- posturas de abertura de quadril: alongam as pernas, melhoram a circulação sanguínea na região do quadril, regulam distúrbios menstruais e sexuais, preparam a gestante para um parto melhor. Ex: baddha konasana, upavista konasana.
5- posturas extensão: melhoram a atividade respiratória, ativam os chacras, previnem cardiopatias, aumentam a flexibilidade da coluna, trazem vitalidade para o corpo ativando o prana vayu. Ex: ustrsana, dhanurasana, purvotanasana, chacrasana.
6- posturas de flexão para frente: regulam e revitalizam o sistema digestivo, aumentam a flexibilidade da coluna, eliminam tensões e dores nas costas, promovem a circulação de energia na região do quadril, alongam a parte posterior das pernas, prevenindo varizes. Espantam estados de fadiga crônica, depressão e desânimo. Ativam o apana vayu. Ex: paschimotanasana, uttanasana, vraja yogasana, janu sirsasana.
7- posturas de torção: atuam na desintoxicação do organismo e são extremamente importantes para a saúde das vértebras. Ex: matsyendrasana, mricyasana.
8- posturas de inversão: ajudam no retorno venoso, melhorando a circulação do sangue e a atividade respiratória, previnem varizes, regulam a atividade hormonal, principalmente da glândula tireóide. Favorecem a memória e o bom funcionamento do cérebro. Ex: salamba sarvangasana, sirsasana.
Recomenda-se que o praticante equilibre sua prática buscando incluir posturas de diferentes categorias.
SEQUÊNCIA BÁSICA PARA A PRÁTICA DIÁRIA:
1 – Abertura da prática: inicie com uma pequena meditação. Coluna ereta, cabeça alinhada, ossos das nádegas no chão, atenção no momento presente, ouça os sons à sua volta. Pratique a respiração completa com ujjayi pranayama e depois nadi sodhana. Entoe o mantra “Om” por três vezes;
2 – Tadasana (postura da montanha): de pé, corpo equilibrado, pés juntos, peso distribuído igualmente nos dois pés, coluna ereta, peito projetado pra frente, energia ascendente da base da coluna até o topo da cabeça, respiração completa, corpo imóvel como uma montanha. Permanência de 2 a 3 minutos.
3 - Padasana (postura da oração): a partir da postura da montanha, posicione as mãos unidas na altura do peito, mantendo a estabilidade e o equilíbrio da postura. Inspirando pode-se elevar as mãos acima da cabeça permanecendo nas pontas dos pés, fixando a atenção em um ponto. Expirando vai desenhando um círculo bem aberto em torno de si mentalizando um círculo de luz à sua volta.
4 – Movimento do elefante: mantenha as pernas um pouco separadas e, abrindo os braços, gire o tronco para direita e para esquerda deixando que o peso dos braços realize a torção na coluna. Cada expiração torça o corpo para um lado.
5 – Chandrasana (postura da lua): com as pernas um pouco abertas, inspire erguendo o braço direito até acima da cabeça. Expirando deixe o braço direito cair para o lado esquerdo, inclinando também o tronco e o pescoço. Sinta o alongamento lateral do corpo mantendo uma respiração calma e constante. Mantenha-se por 30 segundos a um minuto. Inspirando retorne a posição inicial e repita a postura para o lado oposto.
6 - Virabhadrasana II (postura do guerreiro II): separando bem as pernas e os braços, expanda o tórax. Respire profundamente. Gire o pé direito 90 graus para a direita, o pé esquerdo um pouquinho. Estique bem os braços, expire e vá dobrando a perna direita o máximo que puder até a coxa permanecer quase paralela ao chão. Não deixe que o joelho direito se projete à frente do tornozelo. Mantenha o tronco firme e estável na posição ereta, sem inclinar. Respire normalmente e mantenha uma atitude de determinação. Inspire e estique o joelho até as duas pernas estarem novamente esticadas. Repita o movimento para o lado oposto.
7 – Vrksasana (postura da árvore): retorne à postura da montanha e, mantendo a atenção focada em um ponto fixo, levante a perna esquerda, concentrando o peso do corpo na perna direita. Apóie o pé esquerdo na coxa direita, inspire e levante os braços acima da cabeça, mantendo as mãos unidas, sem criar tensão nos ombros. Permaneça por cerca de um minuto e retorne à postura da montanha. Equilibre a respiração e repita a postura sobre a perna esquerda.
8 – Uttanasana (postura intensa): a partir da postura da montanha, expire e deixe o corpo cair para frente descontraindo os ombros e as costas e alongando a parte posterior das pernas. Apóie os pés de forma uniforme no chão e mantenha as pernas esticadas na posição vertical. Permaneça de três a cinco minutos na posição, deixando os braços e o pescoço bem descontraídos.
9 – Dandasana (postura da bengala): a partir de uttanasana, flexione as pernas e repouse a base da coluna no chão. Estique as pernas para frente, mantendo os pés apontando para cima. Coloque as mãos ao lado do quadril e, com os braços esticados ao longo do tronco, mantenha a coluna estável, em um ângulo próximo a 90° em relação às pernas, peito e ombros abertos.
10 - Janu Sirsasana (postura da cabeça no joelho): em dandasana, flexione a perna esquerda colocando a sola do pé junto à parte interior da coxa, próximo ao períneo. Expirando incline o tronco para frente na direção da perna esticada. Os braços esticam-se para frente de forma que as mãos toquem, ou se aproximem do pé direito. A coluna se flexiona naturalmente. Mantenha os ombros e pescoço bem descontraídos. Permaneça respirando calmamente por cerca de um minuto. Inspire, erga o tronco na posição ereta, estique a perna esquerda, realize a postura da bengala e em seguida repita a postura com a outra perna dobrada.
11 - Baddha Konasana (postura do ângulo enlaçado) em dandasana traga os pés juntos até o períneo, deixando os joelhos caírem para os lados. Inspire, erga a cabeça para cima e projete o peito para frente. Expire e flexione a coluna para frente, soltando o peso do corpo sobre as virilhas. Aproxime o máximo a cabeça dos pés e as coxas do chão. Inspirando erga o tronco novamente e abrace as pernas, juntando os dois joelhos.
12 - Utkasana (postura de cócoras): apóie as mãos no chão e retire o quadril do chão, mantendo, se possível os pés completamente apoiados no chão. Se não puder pode ficar na ponta dos pés. Permaneça de um a três minutos na postura de cócoras, favorecendo o bom funcionamento dos intestinos.
13 - Kakasana (postura do corvo): apóie os joelhos nos cotovelos e concentre o peso do corpo nos braços, mantendo-se na ponta dos pés. Com o tempo pode-se arriscar a tirar os pés do chão apoiando-se apenas nos braços. Permaneça na postura o tempo que conseguir, mantendo a respiração estável.
14 - Paschimottanasana (postura do intenso estiramento do oriente): a partir da postura da bengala, inicline o tronco para frente com uma expiração, aproximando as mãos dos pés. Mantenha a respiração normal enquanto permanece na postura realizando uma flexão total da coluna para frente. Inspirando retorne à postura da bengala. Permaneça de uma a três minutos na postura.
15 - Purvotanasana (intenso estiramento do leste): a partir da postura da bengala, leva-se as mãos (encostando no chão) para trás do corpo. Inspirando erga o corpo todo do chão, procurando manter toda planta dos pés no chão. Umbigo pro céu, cabeça levemente inclinada para trás. Procure abrir bem o peito e os ombros e fortaleça os músculos do abdômen. Permaneça entre 30 segundos a um minuto na postura.
16 - Torção Simples: mantenha a postura da bengala. Erga os dois braços acima da cabeça expirando gire a coluna para a direita e leve o braço direito para trás do corpo e o braço esquerdo ao lado da coxa direita. Mantendo as mãos no chão realize uma torção maior na coluna a cada expiração. Permaneça um minuto e com uma inspiração retorne à postura da bengala. Execute o exercício para o lado oposto.
* Pode-se variar, dobrando o joelho direito, usando o braço esquerdo para intensificar a torção.
17 – Maricyasana (postura do sábio Maricy): em dandasana, flexione e eleve o joelho direito, mantendo a sola do pé no chão e a perna esquerda esticada com os dedos do pé apontando para cima. Passe o braço esquerdo por fora do joelho direito. Com uma expiração pressione o braço contra o joelho direito realizando uma torção na coluna. Leve junto o pescoço no movimento. Importante manter a coluna bem colocada e o mais ereta possível para que o trabalho de torção não prejudique as vértebras. Permaneça respirando calmamente por cerca de 30 segundos. Com uma inspiração retorne o tronco ao centro, volte à postura da bengala e realize o movimento para o lado oposto.
18 - Navasana (postura do barco): a partir de dandasana, flexione os dois joelhos mantendo as solas dos pés no chão. Inspirando incline o tronco para trás e, soltando o ar, retire os pés do chão procurando manter as pernas esticadas numa inclinação próxima a 45°. Se não conseguir isso, pode inclinar mais o tronco e aproximar os pés do chão. Estique os braços apontando-os firmemente na direção dos pés. Faça um esforço para manter a coluna o mais ereta possível. Sinta o trabalho na região abdominal. Permaneça de 30 segundos a 1 minuto na postura, dando ênfase à expiração. Inspirando retorne à postura da bengala.
19 – Salabhasana (postura do gafanhoto): em dandasana, coloque os cotovelos no chão e calmamente coloque o seu corpo deitado no chão, virando depois com a barriga para baixo. Mantenha o queixo no chão, os braços esticados para baixo e as mãos abertas pressionando o chão. Expire e erga as duas pernas do chão, o máximo que puder. Inspirando erga a cabeça, o peito, e os braços, mantendo apenas a região abdominal no chão. Os braços permanecem firmes apontando para trás. Sinta a contração e o fortalecimento dos músculos das costas. Permaneça o tempo que puder e depois expire retornando ao chão. Vire a cabeça de lado e relaxe um pouco o corpo.
Salabhasana
20 – Dhanurasana (postura do arco): ainda de bruços, flexione os joelhos e segure os pés ou a canela com as mãos. Expire e levante as pernas com os braços na direção do teto. Inspirando, puxe com as pernas os braços para trás retirando o tronco do chão. Erga a cabeça e sinta a intensa extensão na coluna. Permaneça na postura o tempo que puder com uma respiração mais curta. Se quiser pode realizar um movimento de balanço, para frente e para trás. Expire, soltando os braços das pernas e retorne ao chão. Vire a cabeça de lado e relaxe um pouco o corpo.
21 – Ustrasana (postura do camelo): estando de bruços, coloque suas mãos na altura do peito e erga o corpo na postura da mesa com as mãos e os joelhos apoiando no chão. Levante o tronco e fique de joelhos. Com as mãos na cintura, inspire e incline o tronco e a cabeça para trás, realizando uma extensão na coluna. Se não sentir a coluna lombar, apóie primeiramente uma mão no calcanhar e depois a outra. Com uma inspiração projete o peito para cima e para frente abrindo completamente os ombros e a caixa toráxica. Mantenha uma respiração curta, por 30 segundos a 1 minuto. Coloque uma mão na cintura, depois a outra e expirando sente sobre o calcanhar preparando para realizar a postura da reverência.
* Essa postura deve sempre ser compensada com a postura da reverência.
22 - Vraja Yogasana (postura da reverência): sentando-se sobre o calcanhar continue expirando enquanto flexiona o tronco a frente até sua cabeça encostar ou se aproximar do chão. Estique os braços para frente e preste uma reverência aos mestres da Yoga, ao espaço da prática, ao que há de mais sagrado dentro de você. Relaxe bem o pescoço e permaneça de 1 a 2 minutos na postura contrapondo o esforço realizado na região lombar pela postura anterior.
23 - Adho Muka Svanasana (postura do cachorro olhando para baixo): a partir da postura da reverência, erga o quadril, esticando as pernas. Mantenha as mão sobem abertas apoiando no chão e distancie mais um pouco os braços das pernas. Mantenha os pés um pouco separados e, expirando, contraia o abdômen e empurre o chão para frente com as mãos, buscando manter a coluna ereta e projetando o cóccix para trás e para cima tal qual um cachorro quando espreguiça. Mantenha os pés paralelos, apontando para frente, e as pernas bem esticadas realizando um alongamento na região posterior. Se não conseguir manter os calcanhares no chão, faça com que eles busquem o chão. Respire normalmente e permaneça na postura por pelo menos dois minutos. Expire e retorne com os joelhos no chão, na postura da mesa.
Adho Muka Svanasana
24 - Balancinho: a partir da postura da mesa, sente-se sobre os calcanhares e depois estique as pernas para frente na postura da bengala. Com a ajuda dos cotovelos, deite-se de costas para o chão e flexione os joelhos fazendo as coxas se encontrarem com o abdômen. Abraçando os joelhos balance o corpo para frente e para trás, realizando um massageamento dos músculos ao longo de toda a coluna. Balance, em seguida, de um lado para o outro, massageando os músculos laterais das costas e os rins. Inspire, estique as pernas e permaneça na postura deitada.
25 - Torção deitada: com a barriga para cima, flexione o joelho direito, aproximando a coxa do abdômen e mantendo o pé direito junto da coxa esquerda. Estique o braço direito para o lado direito e, expirando, empurre o joelho direito para a esquerda o máximo possível realizando a torção na coluna. Procure manter os dois ombros no chão. Inspire, traga o joelho de volta, repouse a perna no chão e realize o movimento para o lado oposto.
26 - Salamba Sarvangasana (postura da vela): com o corpo deitado, inspire e erga as pernas noventa graus do chão, mantendo todo o longo da coluna no solo e aponte os pés para cima. Levante também os braços apontando-os para cima. Permaneça alguns segundos, respirando normalmente. Em seguida, apoiando as palmas das mãos no chão, e inspirando, erga o tronco chão, com um leve balanço das pernas para trás. Dobre os cotovelos e apóie o tronco com as mãos. Vá erguendo o corpo o máximo possível, aproximando o peito do queixo. Mantenha o pescoço bem alinhado e não olhe para o lado enquanto realiza a postura. Fique cerca de cinco minutos na posição (exceto em período de menstruação). Em seguida deixe as pernas caírem para trás da cabeça, mantendo o pescoço alinhado durante todo o exercício. Expirando vai desfazendo a postura, encaixando vértebra por vértebra no chão.
* A postura da vela não é muito recomendada para mulheres em período de menstruação.
27 - Matsyanasana (postura do peixe): após a postura da vela, praticar essa postura para compensar o trabalho realizado na região do pescoço. Deitando com a barriga para cima apóie os cotovelos no chão e levante cabeça. Inspire abrindo o peito e colocando o topo da cabeça no chão. Respire normalmente e fique cerca de 30 segundos na posição. Para retornar apóie bem os cotovelos no chão e levante a cabeça, colocando, por fim, o corpo na postura deitada.
28 - Savasana (postura do cadáver): com o corpo deitado, separe um pouco as pernas e deixe os pés caírem para os lados. Aponte as palmas das mãos para cima numa atitude receptiva. Relaxe todo o corpo. Passeie com a atenção dos pés à cabeça e elimine toda as tensões musculares. Entregue-se à mãe terra, mantenha uma respiração suave e abdominal e a mente focada no momento presente. Permaneça de cinco a dez minutos na posição. Depois levante-se calmamente, espreguiçando e colocando-se na postura sentada, com a coluna ereta para fechar a prática.
Encerramento da prática: sente-se confortavelmente com a coluna ereta. Agradeça à presença toda-luminosa em seu coração e faça uma oração de fé em prol da saúde a da cura das pessoas à sua volta e do planeta. Entoe o mantra “Om” três vezes. Pratique novamente o Vraja Yogasana prestando reverência aos mestres da Yoga. Encerre a prática com alegria e disposição.
Namastê!
As diferentes escolas de Yoga
As diferentes escolas de Yoga que se apresentam atualmente no ocidente sofrem influência de duas tradições filosóficas distintas, que compõem uma parte do que viemos a conhecer hoje como hinduísmo: a tradição Smarta e a tradição Vaishnava.
O maior expoente da tradição Smarta é o mestre Shankara, que viveu no século VIII, e através dos seus comentários dos Upanisads, Vedanta Sutra e Bhagavad Gita, difundiu e sistematizou a filosofia advaita, ou não-dualismo.
A tradição Smarta acredita que a meta última da entidade viva é alcançar Moksha, ou a liberação dos ciclos dos nascimentos e mortes (Samsara) através da observação do Dharma, ou dever natural da entidade viva. Uma vez estabelecida firmemente no Dharma, e suplantando os desejos por Kama (satisfação material) e Artha (desenvolvimento econômico), a entidade viva cria condições para atingir a liberação. Uma vez liberta, a entidade viva não precisa mais assumir nenhuma forma e se funde no Brahman, ou o Todo Universal, perdendo a sua individualidade.
De acordo com essa tradição, tudo o que existe está contido dentro de Brahman, não existindo uma realidade espiritual separada do universo. Os diferentes deuses são apenas representações simbólicas de aspectos específicos do Brahman, que em última análise é desprovido de forma, nome e características. A devoção (Bhakti) e a fé são apenas estágios pelo qual o praticante passa para atingir o conhecimento (Jnana), que lhe permite distinguir o que é real do que é ilusório, levando-o à Moksha.
De forma distinta, a tradição Vaishnava considera que o conhecimento, assim como o poder são inferiores à fé e à devoção. De acordo com o que afirma o mestre Vaishnava Srila Bhakti Raksak Shridhar Dev-Goswami Maharaj: “Quando o coração desperta, a função do cérebro se aposenta”. Em seu livro “A Busca Amorosa Ao Servo Perdido” Shridhar Maharaj é ainda mais enfático:
“O amor, a beleza, a afeição e a harmonia são o anseio mais íntimo de toda alma viva e não o poder, o conhecimento ou qualquer outra ciosa. Este é o diagnóstico de toda a Criação no tempo e no espaço; a causa comum é uma só. Mas é raro uma alma chegar a um estágio tão claro de anseio pela realidade que lhe permita entender este ponto. Encontramos poucas almas neste mundo realmente conscientes de sua necessidade mais íntima , que percebem que: ‘queremos Krishna! Queremos Vrndavana!’ ”
Nessa perspectiva, abordar o absoluto somente por Sua concepção Brahman é ter uma compreensão incompleta da realidade espiritual. Se os Vedas descrevem que a realidade última é composta por Sat (eternidade), Cit(consciência ou individualidade) e Ananda (bem-aventurança), o Absoluto Supremo não pode ser diferente. Brahman se refere apenas ao aspecto eterno do Absoluto, que é onipresente e oniabrangente. Contudo temos o aspecto consciência do absoluto que é chamado de Paramatma ou Superalma e o aspecto de bem-aventurança que é chamado de Bhagavan.
Paramatma é o aspecto localizado do Absoluto. Refere-se ao caráter onipenetrante da Divindade que se faz presente no coração de tudo o que é vivo e dentro de cada átomo e célula do universo, Bhagavan se refere ao aspecto pessoal do Supremo, que é oniatraente, pleno de nomes, formas e qualidades transcendentais à energia ilusória. Todo o encanto, a doçura e a beleza advindos das qualidades eternas da Pessoa Suprema, são fatores máximos de atração para as entidades vivas que, uma vez despertas para o mundo espiritual, têm a oportunidade de ingressar em uma relação amorosa, eterna e bem-aventurada com o Absoluto. Conforme corroborado por Sri Krishna no Bhagavad Gita:
“ Por meio da arte de conectar-se em serviço, oferecendo todas as suas atividades a Mim, com a compreensão de que apenas Eu sou a meta suprema, abrigue-se no enlace de sua inteligência coMigo e permaneça sempre e lealmente devotado a mim” (Sri Gita 18.57).
Para o Vaishnava o serviço devocional ao mestre espiritual e à Pessoa Suprema é ao mesmo tempo o fim e o meio pelo qual a entidade viva realiza o seu potencial pleno. A posição da entidade viva é inconcebível, sendo simultaneamente una e separada do Senhor. Una por que é feita da mesma substância espiritual - composta por eternidade, consciência ou individualidade e bem aventurança - mas separada porque, diferente de Bhagavan, que é infinito e ilimitado, a entidade viva é finita e limitada.
“A verdade absoluta, a substância transcendental que é objeto de nossa indagação através da fé, está dotada de todo poder e de toda consciência. Ele é bondoso, benevolente e doce. Seu poder é infinitamente superior ao nosso, e nós somos infinitamente menores do que Ele. Nossa atitude deve ser de que, comparados a Ele, somos insignificantes.” – Srila B.R Shridhar Dev-Goswami Maharaj
Somente por meio da fé e da rendição ao Centro Absoluto, a entidade viva pode transcender ao ambiente ilusório e situar-se na plataforma espiritual de serviço devocional amoroso ao Senhor.
É importante, que o praticante e estudante de Yoga saiba discernir essas duas correntes filosóficas para não se deixar levar por uma compreensão parcial da realidade espiritual, correndo o risco de almejar uma dissolução total no Brahman impessoal, tornando-se assim desprovido das qualidades espirituais necessárias para uma relação de amor, afeto, beleza, doçura e encanto, que se origina de uma atitude de humildade, submissão e rendição ao Mestre Espiritual e à Suprema Personalidade de Deus.
O maior expoente da tradição Smarta é o mestre Shankara, que viveu no século VIII, e através dos seus comentários dos Upanisads, Vedanta Sutra e Bhagavad Gita, difundiu e sistematizou a filosofia advaita, ou não-dualismo.
A tradição Smarta acredita que a meta última da entidade viva é alcançar Moksha, ou a liberação dos ciclos dos nascimentos e mortes (Samsara) através da observação do Dharma, ou dever natural da entidade viva. Uma vez estabelecida firmemente no Dharma, e suplantando os desejos por Kama (satisfação material) e Artha (desenvolvimento econômico), a entidade viva cria condições para atingir a liberação. Uma vez liberta, a entidade viva não precisa mais assumir nenhuma forma e se funde no Brahman, ou o Todo Universal, perdendo a sua individualidade.
De acordo com essa tradição, tudo o que existe está contido dentro de Brahman, não existindo uma realidade espiritual separada do universo. Os diferentes deuses são apenas representações simbólicas de aspectos específicos do Brahman, que em última análise é desprovido de forma, nome e características. A devoção (Bhakti) e a fé são apenas estágios pelo qual o praticante passa para atingir o conhecimento (Jnana), que lhe permite distinguir o que é real do que é ilusório, levando-o à Moksha.
De forma distinta, a tradição Vaishnava considera que o conhecimento, assim como o poder são inferiores à fé e à devoção. De acordo com o que afirma o mestre Vaishnava Srila Bhakti Raksak Shridhar Dev-Goswami Maharaj: “Quando o coração desperta, a função do cérebro se aposenta”. Em seu livro “A Busca Amorosa Ao Servo Perdido” Shridhar Maharaj é ainda mais enfático:
“O amor, a beleza, a afeição e a harmonia são o anseio mais íntimo de toda alma viva e não o poder, o conhecimento ou qualquer outra ciosa. Este é o diagnóstico de toda a Criação no tempo e no espaço; a causa comum é uma só. Mas é raro uma alma chegar a um estágio tão claro de anseio pela realidade que lhe permita entender este ponto. Encontramos poucas almas neste mundo realmente conscientes de sua necessidade mais íntima , que percebem que: ‘queremos Krishna! Queremos Vrndavana!’ ”
Nessa perspectiva, abordar o absoluto somente por Sua concepção Brahman é ter uma compreensão incompleta da realidade espiritual. Se os Vedas descrevem que a realidade última é composta por Sat (eternidade), Cit(consciência ou individualidade) e Ananda (bem-aventurança), o Absoluto Supremo não pode ser diferente. Brahman se refere apenas ao aspecto eterno do Absoluto, que é onipresente e oniabrangente. Contudo temos o aspecto consciência do absoluto que é chamado de Paramatma ou Superalma e o aspecto de bem-aventurança que é chamado de Bhagavan.
Paramatma é o aspecto localizado do Absoluto. Refere-se ao caráter onipenetrante da Divindade que se faz presente no coração de tudo o que é vivo e dentro de cada átomo e célula do universo, Bhagavan se refere ao aspecto pessoal do Supremo, que é oniatraente, pleno de nomes, formas e qualidades transcendentais à energia ilusória. Todo o encanto, a doçura e a beleza advindos das qualidades eternas da Pessoa Suprema, são fatores máximos de atração para as entidades vivas que, uma vez despertas para o mundo espiritual, têm a oportunidade de ingressar em uma relação amorosa, eterna e bem-aventurada com o Absoluto. Conforme corroborado por Sri Krishna no Bhagavad Gita:
“ Por meio da arte de conectar-se em serviço, oferecendo todas as suas atividades a Mim, com a compreensão de que apenas Eu sou a meta suprema, abrigue-se no enlace de sua inteligência coMigo e permaneça sempre e lealmente devotado a mim” (Sri Gita 18.57).
Para o Vaishnava o serviço devocional ao mestre espiritual e à Pessoa Suprema é ao mesmo tempo o fim e o meio pelo qual a entidade viva realiza o seu potencial pleno. A posição da entidade viva é inconcebível, sendo simultaneamente una e separada do Senhor. Una por que é feita da mesma substância espiritual - composta por eternidade, consciência ou individualidade e bem aventurança - mas separada porque, diferente de Bhagavan, que é infinito e ilimitado, a entidade viva é finita e limitada.
“A verdade absoluta, a substância transcendental que é objeto de nossa indagação através da fé, está dotada de todo poder e de toda consciência. Ele é bondoso, benevolente e doce. Seu poder é infinitamente superior ao nosso, e nós somos infinitamente menores do que Ele. Nossa atitude deve ser de que, comparados a Ele, somos insignificantes.” – Srila B.R Shridhar Dev-Goswami Maharaj
Somente por meio da fé e da rendição ao Centro Absoluto, a entidade viva pode transcender ao ambiente ilusório e situar-se na plataforma espiritual de serviço devocional amoroso ao Senhor.
É importante, que o praticante e estudante de Yoga saiba discernir essas duas correntes filosóficas para não se deixar levar por uma compreensão parcial da realidade espiritual, correndo o risco de almejar uma dissolução total no Brahman impessoal, tornando-se assim desprovido das qualidades espirituais necessárias para uma relação de amor, afeto, beleza, doçura e encanto, que se origina de uma atitude de humildade, submissão e rendição ao Mestre Espiritual e à Suprema Personalidade de Deus.
Assinar:
Postagens (Atom)