Essa poesia é do Professor Euclides Mendonça. Bem contundente para refletirmos:
Natal,
Natal Ruidoso
Com cartões de festa,
Com presentes raros,
Com champagne e nozes,
Com lautas ceias e com vinhos...
Natal do Papai Noel
Com árvores fantásticas.
Natal de ricos satisfeitos,
Natal de pobres esquecidos,
Natal com excesso de palavras,
Com abraços e mensagens
E todo discurso repisado
De venturas e sentimentalismos.
Natal da mídia,
Das agências,
Do comércio
E das convenções vazias.
Triste Natal que dura
Enquanto ferve a espuma nas taças de cristal
Triste natal que passa
Com a embriaguez das horas,
Triste Natal que fica inquietante
Com o travo das buscas infrutíferas.
Triste Natal que finda,
Tão logo se esvazia
O pequenino alforje do Papai Noel.
Natal do Mundo,
Não do Cristo,
O seu engano é pretender trazer,
No bojo de um alforje,
O imenso absoluto que nos falta,
E saciar com vinho e iguarias
A torturante fome que não passa.
O Natal de Cristo não tem ruído,
Tem o silêncio das noites de vigília,
Tem o canto dos anjos que consola,
Tem as palhas, tem o frio
A manjedoura pobre
Tem a mudez tranqüila da criação animal
Tem a humanidade simples dos pastores,
Tem a placidez da Virgem silenciosa,
E, sobretudo,
Tem o mistério de Deus humanado, pequenino,
Em dádiva perene
Aos corações sedentos do divino...