Yoga Sutra de Patanjali
O Yoga Sutra foi escrito por volta do ano 360 d.c pelo sábio Patanjali que codificou
o sistema védico de Yoga, reunindo-o em uma escritura bastante técnica. Alguns estudiosos consideram o Yoga Sutra como um verdadeiro tratado de psicologia. A obra constitui-se de 195 versos organizados em quatro capítulos: Samadhipada, que trata da definição de Yoga e dos estados mentais característicos em Yoga e em não-Yoga; Sadhanapada, que trata da prática de Yoga, Vibhutipada que trata dos benefícios e dos riscos advindos da prática de Yoga e Kaivalyapada, que trata do processo de emancipação final alcançado através da Yoga.
Na primeira parte, o Yoga Sutra começa definindo Yoga: Yoga é a habilidade de voltar a mente exclusivamente em direção a um objeto e sustentar essa direção sem quaisquer distrações (Yoga Sutra 1.3). Dessa forma, enquanto a mente se mantém nesse estado de Yoga, a pessoa tem condição de ter uma percepção direta e verdadeira do objeto de sua meditação. Fora do estado de Yoga a habilidade de compreender o objeto é simplesmente substituída pela concepção mental desse objeto ou por uma total falta de compreensão. (Yoga Sutra 1.4)
Os cinco vrttis, ou atividades mentais que devem ser controladas para que o praticante se mantenha em Yoga são: compreensão correta, compreensão errônea, imaginação, sono profundo e memória. (Yoga Sutra 1.6). De acordo com o comentário dado pelo professor Desikachar , o predomínio e os efeitos de cada uma delas sobre o nosso comportamento e atitudes combinam-se para formar nossa personalidade.
O estado de Yoga, de acordo com o Yoga Sutra, só pode ser conseguido por meio da prática constante e do desapego. Essa prática deve ser seguida por um longo tempo, sem interrupções e com as qualidades de uma atitude positiva e entusiasmo, para que se obtenha o sucesso desejado (Yoga Sutra 1.12-14). Além disso, o Yoga Sutra destaca que o estado de Yoga também pode ser alcançado oferecendo orações regularmente a Deus com um sentimento de submissão ao seu poder (1.23). Deus é definido na escritura como o Ser Supremo cujas ações nunca se baseiam em compreensão errônea, que conhece tudo que há para ser conhecido, que é eterno, o professor definitivo, sendo a fonte de orientação para todos os professores (Yoga Sutra 1.24-27).
Dessa forma, com fé, prática constante, desapego e orações a Deus, a pessoa pode evitar os Klesas, ou obstáculos que surgem naturalmente ao longo da prática de Yoga. São eles: doença, estagnação mental, dúvida, falta de prudência, fadiga, excesso de complacência, ilusões sobre o seu próprio estado mental, falta de perseverança e retrocesso. Todos esses obstáculos acabam por causar alguns dos seguintes sintomas: desconforto mental, pensamento negativo, incapacidade de sentir-se confortável em diferentes posturas do corpo e dificuldade de controlar a própria respiração (Yoga Sutra, 1.30,31).
Na segunda parte da obra, o Yoga Sutra apresenta o Ashtanga Yoga, ou os oito componentes que perpassam o desenvolvimento da prática de Yoga (2.29):
1. Yama – atitudes para com o meio ambiente
2. Nyama – atitudes para conosco
3. Asanas – prática dos exercícios físicos
4. Pranayama – prática de exercícios respiratórios
5. Pratyahara – prática do controle dos sentidos: “Quando o praticante de ioga não está mais viciado nos desfrutáveis objetos dos sentidos do som, textura, forma sabor e odor; quando não está mais apegado a nenhuma ação buscando desfrutá-las, e tendo atingido a mais completa renúncia de todos os planos de tal ação, apenas então poderá ser aclamado como sendo aquele que verdadeiramente atingiu a ioga”. (Sri Gita, 6.4)
6. Dharana – prática da concentração mental: “Pela mente controlada por Dharana, deve-se completamente estabelecer a mente na alma. Então, pela prática gradual, removendo a mente dos objetos externos, deve-se atuar no transe do Samadhi e não pensar, nem por um segundo, em nada além da alma.” (Sri Gita, 6.27)
7. Dhyana – prática de meditação: “Ó heróico Arjuna! Sem dúvida a mente é intável e extremamente difícil de controlar. Entretanto, ó filho de Kunti, a mesma é subjugada pela prática contínua da meditação iogue na Superalma, como ensinada pelo mestre espiritual fidedigno, e pelo abandono do desfrute mundano dos sentido.” (Sri Gita, 6.37)
8. Samadhi – cultivo do estado de Yoga de completa união com a natureza do Ser Individual (atma) e o Ser Supremo (paramatma): “O estado de perfeito Samadhi, ou transe, é aquele em que a mente disciplinada do iogue obtém o desapego – até mesmo do mais leve pensamento de conotação mundana. O iogue permanece satisfeito apenas no Senhor. Tendo vivenciado a Superalma diretamente por meio de seu coração purificado, experimenta aquela felicidade eterna, perceptível pela divina inteligência da alma e destituída do contato com os sentidos e com os objetos dos sentidos – e nunca se desvia da natureza intrínseca da alma. (Sri Gita, 6.20-22)
Os Yamas e os Nyamas são considerados a base que sustenta a prática de Yoga. O Yoga Sutra estabelece cinco Yamas e cinco Nyamas, a saber:
Os cinco Yamas:
1. Ahimsa: não violência, consideração por todos os seres vivos, especialmente os que são inocentes, os que estão em dificuldade ou em situação pior do que a nossa .
2. Satya: veracidade, honestidade, boa conduta.
3. Asteya: ausência de cobiça por algo que não lhe pertence.
4. Brahmacharya: castidade ou auto-controle.
5. Aparigraha: ausência de apego por posses e prestígio.
Os cinco Nyamas:
1. Saucha: limpeza, pureza, asseio.
2. Santosha: contentamento.
3. Tapas: austeridade, prática constante.
4. Svadhyaya: prática constante de auto investigação e estudo de textos sagrados.
5. Ísvara-pranidhana: prestar reverências ao Supremo Senhor.
A prática atenciosa dos três últimos Nyamas constitui-se no processo conhecido como Kriya Yoga, e por si só leva o praticante a observar os demais Yamas e Nyamas e atingir os mais elevados estágios da prática de Yoga.