Natal do Mundo ou do Cristo?
Natal,
Natal Ruidoso
Com cartões de festa,
Com presentes raros,
Com champagne e nozes,
Com lautas ceias e com vinhos...
Natal do Papai Noel
Com árvores fantásticas.
Natal de ricos satisfeitos,
Natal de pobres esquecidos,
Natal com excesso de palavras,
Com abraços e mensagens
E todo discurso repisado
De venturas e sentimentalismos.
Natal da mídia,
Das agências,
Do comércio
E das convenções vazias.
Triste Natal que dura
Enquanto ferve a espuma nas taças de cristal
Triste natal que passa
Com a embriaguez das horas,
Triste Natal que fica inquietante
Com o travo das buscas infrutíferas.
Triste Natal que finda,
Tão logo se esvazia
O pequenino alforje do Papai Noel.
Natal do Mundo,
Não do Cristo,
O seu engano é pretender trazer,
No bojo de um alforje,
O imenso absoluto que nos falta,
E saciar com vinho e iguarias
A torturante fome que não passa.
O Natal de Cristo não tem ruído,
Tem o silêncio das noites de vigília,
Tem o canto dos anjos que consola,
Tem as palhas, tem o frio
A manjedoura pobre
Tem a mudez tranqüila da criação animal
Tem a humanidade simples dos pastores,
Tem a placidez da Virgem silenciosa,
E, sobretudo,
Tem o mistério de Deus humanado, pequenino,
Em dádiva perene
Aos corações sedentos do divino...
Natal de Luz e Paz!
Nosso Senhor Jesus Cristo, o maior Yogue que já passou pela Terra deixa-nos aquela famosa mensagem que é sempre bom relembrar:
- Bem Aventurados os pobres de espírito: porque é deles o reino dos céus.
- Bem Aventurados os mansos: porque eles possuirão a terra.
- Bem Aventurados os que choram: porque eles serão consolados.
- Bem Aventurados os que têm fome e sede de justiça: porque eles serão satisfeitos.
- Bem Aventurados os misericordiosos: porque eles alcançarão a misericórdia.
- Bem Aventurados os limpos de coração: porque eles verão a Deus.
- Bem Aventurados os pacíficos: porque eles serão chamados filhos de Deus.
- Bem Aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça: porque deles é o reino dos céus. (Mateus 5: 1-12)
Festival do Aparecimento Transcendental de Srila Shridhar Maharaj
No dia de Hoje comemoramos o aniversário do mestre espiritual Srila Shridhar Dev-Goswami Maharaj. Como eu poderia resumir em poucas palavras o que significa essa data?
Srila Shridhar Maharaj foi um dos mais proeminentes devotos de Srila Bhaktissidanta Sarasvati Thakur, o Guru Vaisnava que levou adiante com todo vigor o movimento de expansão da missão de Chaitanya Mahaprabhu ao mundo ocidental.
E o que é esse movimento de Chaitnya Mahaprabhu? É o movimento do Harinama Sankirtana, ou o canto congregacional dos Santos Nomes de Deus. É um portal de misericórdia que se abre nessa era, que dá acesso pleno ao mundo espiritual à todos aqueles que se aproximarem com sinceridade do mestre espiritual e tomar para si o canto dos santos nomes.
O convite que se faz é muito mais fino do que pensamos. ALcança uma plataforma muito mais elevada da que podemos conceber. É a entrada definitiva da alma no plano do júbilo e do amor eterno que transborda como néctar de Krishna, a Pessoa Original.
Nas palavras de Srila Shridar Maharaj: " O amor está maravilhosamente situado acima de tudo. Passando por cima de tudo, Mahaprabhu pede a nós para aceitarmos o caminho do amor, que significa a entrega do coração, a entrega do ser. Isso é tão poderoso que nada mais pode atrair Krishna. Ele está sedento por esse amor, por esse Prema. ele vive no Prema. Ele é o Senhor do Amor. Aquele amor que tem sua existência interna, e que é a existência interna de todos nós. Ele é o amor personificado e existe um lampejo disso também em nós, e, como "pássaros da mesma plumagem", o amor aprecia o amor."
Prestemos nossas repetidas reverências a Srila Shridhar Maharaj, o Guardião da Devoção, orando por suas bênçãos de amor, para que possamos vislumbrar ao menos um lampejo dessa realidade nectárea, que em nosso íntimo tanto ansiamos.
Todas as Glórias à Sri Guru e Sri Gouranga!
O Pranamaya Kosha
Os principais elementos do Pranamaya Kosha são os nadis, os vayus e os chacras. Os nadis podem se assemelham a uma rede nervosa sutil, composta por cerca de 72000 canais , por meio dos quais o prana circula e é distribuído por todo o corpo.
O principal nadi do corpo é o Shushumna que passa ao longo da coluna vertebral. Sua raiz está na base do tronco, próxima ao cóccix, e estende-se até a região situada no topo da cabeça. Ao lado de Shushumna encontramos os nadis ida e pingala.
O ida-nadi nasce à esquerda da raiz de shushumna, cruzando-a na altura de cada um dos principais chacras até alcançar o ajna chacra, no centro do crânio e terminar na narina esquerda. O pingala-nadi nasce à diretia da raiz de shushumna, entrecruzando os outros dois nadis na altura dos chacras, até alcançar o ajna chacra e terminar, por fim, na narina direita.
A circulação de energia por esses três nadis, depende diretamente do bom funcionamento dos sete chacras principais situados ao longo da coluna vertebral. O ida-nadi transporta as energias lunares e o pingala-nadi, as energias solares. A prática sincera e disciplinada de yoga, incluindo pranayamas, asanas e meditação, faz com que o prana que circula normalmente por ida e pingala, convirja para o shushumna nadi, possibilitando o desenvolvimento espiritual do praticante. A esse processo dá-se comumente o nome de “despertar da Kundalini” que é justamente essa energia latente na base de Shushumna que, quando desperta, eleva o praticante às esferas mais elevadas de compreensão da realidade.
Os vayus são correntes prânicas que conduzem a circulação do prana no corpo e contribuem para a ativação dos principais chacras, ou centros energéticos do corpo. Os vayus originam também impulsos importantes para o desempenho de diversas funções orgânicas do corpo. Os principais vayus são o prana vayu, na região do peito que movimenta a energia de forma circular, ascendente e centrípeta, no espaço entre o umbigo e a garganta; o apana vayu, centralizado na metade inferior do tronco, movimentando a energia de forma descendente e centrífuga; o samana vayu que, situado entre prana e apana, equilibra esses dois vayus, movimentando a energia de forma circular na inspiração (de fora pra dentro) e de forma horizontal na expiração (de dentro pra fora); o udana vayu, que movimenta a energia de forma circular entre a garganta e o topo da cabeça; e o vyana vayu, que movimenta a energia nas extremidades do corpo, para dentro na inspiração, e para fora, na expiração.
Os chacras são centros energéticos onde convergem um número grande de nadis e podem ser comparados aos gânglios nervosos que concentram corpos celulares de neurônios. Nos chacras a energia dos nadis é captada, transformada e retransmitida para outros nadis. O nome “chacra” faz alusão a uma roda onde a energia se movimenta de forma circular, sendo atraída e irradiada constantemente.
Por fazer parte do corpo energético, o funcionamento dos chacras influencia tanto nas funções orgânicas, quanto nas atividades psíquicas do indivíduo. Estando ativados e em pleno funcionamento, os chacras contribuem para a saúde dos sistemas orgânicos e para a livre circulação de informações entre os corpos físicos e sutis, permitindo tanto uma circulação quanto uma retenção maior do prana, gerando um conseqüente incremento na vitalidade geral do corpo.
Os sete principais chacras estão situados ao longo do nadi shushumna e, sua disposição coincide com as principais concentrações nervosas do corpo. Os sete principais chacras costumam ser apresentados da seguinte forma:
NOME DOS CHACRAS LOCALIZAÇÃO PRINCIPAIS FUNÇÔES PSÍQUICAS E FUNÇÕES ORGÂNICAS RELACIONADAS:
Sahasrara Topo da cabeça, Conexão com a espiritualidade, Bom funcionamento do cérebro
Ajna
Intercílio – plexo cavernoso, Desenvolvimento da intuição e do discernimento, Coordenação e articulação dos pensamentos
Visudha Região da garganta – plexo faríngeo e laríngeo,
Desenvolvimento da comunicação através da expressão de sentimentos e pensamentos, Saúde e disposição do órgãos vocativo e bom funcionamento da glândula tireóide
Anahata Região do coração – plexo cardíaco, Abertura para o relacionamento com os outros. Desenvolvimento da compaixão, da caridade e da solidariedade Bom funcionamento do coração e da glândula timo. Saúde do sistema imunológico
Manipura Região lombar – plexo epigástrico, Domínio das circunstâncias (capacidade de estar sempre no lugar certo e na hora certa) Bom funcionamento do sistema digestivo, principalmente os intestinos
Svadhisthana
Genitais – plexo do sacro
Domínio sobre as paixões e direcionamento da energia para manutenção e reprodução da vida,Bom funcionamento do sistema reprodutor e das glândulas sexuais. Manutenção da fertilidade
Muladhara
Base da coluna vertebral – plexo coccígeo. Desenvolvimento da segurança interior, estabilidade, autoconfiança e fé. Coordenação das atividades de excreção
A Prática de Hatha Yoga
Como já mencionado, o Hatha Yoga associa as diversas formas de Yoga ao trabalho corporal baseado em posturas psicofísicas e em exercícios respiratórios. Partindo da noção de Yoga apresentada aqui, a diferença básica entre os exercícios de Hatha Yoga e uma ginástica comum, está na consciência que o praticante procura empregar em cada postura, mantendo a mente presente, a atenção na respiração e nas mudanças energéticas e psíquicas proporcionadas pelos exercícios.
Antes de começar a falar especificamente dos exercícios de Hatha Yoga é necessário que tenhamos alguma noção dos Koshas, ou corpos energéticos e sutis que estão associados ao corpo físico com o qual se inicia o trabalho.
A tradição védica nos ensina que o corpo físico que conhecemos, manifesta-se primeiramente em planos mais sutis até se manifestar na matéria grosseira. Dessa forma temos primeiramente o plano original da consciência, chamado de Brahman, que é o Todo, o Absoluto, a causa de tudo o que existe. Em seguida temos o plano individualizado da consciência original, chamado de Atma, que são as partículas infinitesimais do Absoluto. O primeiro Kosha, ou corpo, que o Atma adquire é o Anandamaya Kosha, que é formado basicamente de substância espiritual, sendo constituído de Sat (eternidade), Cit (consciência), e Ananda (bem-aventurança ou êxtase). Quando o Atma se envolve com o universo material ele começa a adquirir os corpos que o levarão até os aspectos mais grosseiros da existência.
No plano sutil encontramos três Koshas: Vijnamaya Kosha, que é a sede do discernimento, a dimensão da sabedoria e da intuição; Manomaya Kosha, que é o corpo mental e emocional, sede da razão e dos sentimentos, é onde encontram-se as raízes do apego mundano; e Pranamaya Kosha, que é o corpo energético, sede dos chacras, vayus e nadis, onde circula o prana, ou a energia vital. O intermédio entre o corpo físico e os corpos sutis se faz por meio do Pranamaya Kosha, por isso a importância dada nos exercícios de Hatha Yoga ao equilíbrio energético corporal.
Temos por fim o Annamaya Kosa, ou o corpo físico, onde encontramos os sistemas muscular, endócrino, digestivo, circulatório, respiratório, reprodutivo, nervoso e imunológico.
De acordo com a ciência da Yoga, a maior parte das doenças se originam no Manomaya Kosha e suas causas quase sempre estão relacionadas à desarmonia entre os corpos físico, energético e mental. À medida em que esses corpos se alinham e se harmonizam, o praticante aguça sua percepção intuitiva e acessa a sabedoria que descende do plano espiritual, proporcionando uma visão clara e libertadora da existência.
Dessa forma o trabalho de Hatha Yoga é realizado em duas direções: uma que parte do plano físico e energético, buscando trabalhar aí as causas e os sintomas dos distúrbios e doenças, e outra que parte do plano da consciência (ou atma), fazendo-a penetrar nas camadas mais grosseiras do ser, irradiando a luz, a sabedoria e a saúde que descendem dos elevados padrões vibracionais encontrados nas camadas superiores.
Pelos Caminhos da Índia
Pra abrir o mês de agosto publico aqui no blog o relato que fiz da minha viagem à Índia em 2005/2006. O artigo foi escrito originalmente para o jornal periódico do Centro Acadêmico de Turismo da UFJF.
Namastê!
Passei um fim de ano completamente diferente do que estava habituado. A partir da segunda metade de dezembro de 2005 até o dia 20 de janeiro, andei por aquelas bandas do oriente e presenciei um pouco do que a sagrada terra da Índia pode oferecer. Fora dos pacotes turísticos que normalmente encontramos para Índia (que contemplam visitas ao Taj Mahal, templos famosos, mercados de Nove Délhi, praia e sol em Goa, etc). Optei por um caminho diferente. Orientado por meu pai, grande amante daquela terra, não quis ser um simples turista, equipado com câmera fotográfica, encerrado em um grupo de turistas ocidentais perplexos e portando uma boa quantidade de dólares, pronto para comprar, absorver, agarrar, guardar e sugar tudo que estivesse ao meu alcance. Antes de ir meu pai me instruiu: “A Índia é uma mãe, os próprios indianos a chamam de Mãe Bharata, não chegue querendo tirar nada de lá como nós ocidentais sempre fizemos nesses últimos séculos. Ao contrário, leve alguma coisa para ela, coloque-se a seu serviço e ela se revelará a você. A Índia mais do que um lugar físico, é um estado de consciência. e uma vez acessando esse estado, a Índia verdadeira nunca te abandonará.” Guiado por esse pensamento, tratei de tomar uma atitude reverente desde o primeiro momento que pisei naquele solo sagrado, berço de conhecimento, medicina, música, culinária e espiritualidade. Uma civilização que vem resistindo há milênios a todas as invasões, e, apesar das contradições, se mantém até os dias de hoje como um centro emissor de bênçãos espirituais e boa lições de vida para toda a humanidade.
Conheci velhos homens, incríveis, que com um brilhante sorriso estampado no rosto transmitiam a doçura, a beleza e o encanto de quem dedicou os seus dias ao desenvolvimento de uma vida espiritual eterna, plena de conhecimento e bem-aventurança. Fui bem recebido, bem hospedado e bem alimentado.
Nada precisava pagar por isso, apenas se eu quisesse. Emocionei-me muitas vezes tanto pelo brilho da riqueza cultural e devocional, quanto pelo horror da sujeira, da pobreza e da doença. Mas não deixei-me abater nos momentos difíceis. Mãe Bharata parecia dizer-me que tudo tem sua razão de ser e que não cabia a mim tentar compreender os arranjos que o Supremo faz para atender a cada um dos seres viventes desse planeta. Quando não resistia ou tentava me defender, uma profunda doçura me era revelada, mesmo em meio ao inacreditável caos.
Quando mergulhamos no coração da Índia e conseguimos ir além das aparências, tudo se transforma ao nosso redor, com num passe de mágica. Tudo torna-se incrivelmente belo e harmonioso. O rio Ganges, a princípio um simples rio sujo da Ásia, apresenta-se com toda a sua opulência cortando o solo da Índia a distribuir suas bênçãos purificadoras. Por detrás da tela começamos a perceber aquilo que meu pai chama de um outro estado de consciência. Cada movimento ali começa a fazer sentido e você percebe uma mensagem vinda de um plano superior, comunicada através da natureza simples e espontânea das pessoas, da forma como o dia vai começando - com os sinos das bicicletas e dos templos, do barulho das engrenagens do carro de boi, misturado com o som dos pássaros, dos cânticos devocionais, dos símbalos e dos tambores - e da forma como o dia vai terminando, da mesma forma como vai começando, sendo reverenciado e contemplado incansavelmente por todos. Tudo se mostra, então, como um convite a ingressar em uma nova forma de viver, de ver o mundo e a nós mesmos. Uma nova perspectiva sobre a vida e a morte é apresentada, e um mundo totalmente novo descortina-se dentro de nós.
Esse é o tipo do turismo oculto que a Índia revela de acordo com o nosso esforço interior. Claro que existe também o turismo “bolha” onde o turista tem a opção de se proteger do mundo e só enxergar o que for agradável para os olhos e a mente. De apenas absorver o que lhe convém e evitar o mergulho na cultura, na convivência, no horror e na beleza. No turismo bolha, muitas coisas bonitas são vistas mas não é dado aquele “salto quântico” ao qual eu estive tentando me referir acima.
Na cidade de Jaganatha Puri, no litoral do Estado de Orissa, ao Sul da Bengala ocidental, os grandes hotéis já tomam conta de norte a sul da orla praiana. A atmosfera luxuosa e imponente das construções contrasta incrivelmente com o estilo simples da população local. Escondido atrás dos hotéis, em uma pequena depressão na rua, o lixo é depositado aos montes, sendo disputado pelos cachorros, pelas vacas e pelos corvos.
Os turistas podem fazer suas compras no centro comercial e adquirirem requintadíssimos artigos indianos. Podem passear pela cidade e apreciar todo o exotismo indiano expresso nas vestimentas das pessoas, nas fachadas dos templos e nas feiras livres onde uma variedade incalculável de itens é exposta (colares, anéis braceletes, tecidos aos milhões, pratarias, artigos decorativos, tapetes, instrumentos musicais, artigos devocionais, incensos, peças em madeiras, fotos, cartões postais, imagens de deuses hindus etc,etc,etc). Nesses passeios evita-se passar pelos inúmeros becos distribuídos ao redor do centro da cidade onde a dolorosa realidade de um dos lugares mais inflamados do mundo é exposta impiedosamente. Esgotos escorrendo pelos cantos das ruas, lixo, doenças, sujeiras, homens jogados na sargeta, leprosos, bois mal-tratados e cães sardentos brincando com as crianças, não são uma boa coisa para o turista apreciar.
Na praia pode-se fazer passeios de camelos importados que andam monotonamente de um lado para o outro e garantem o sustento de alguns indianos que descobriram um meio de explorar os turistas. Se o turista preferir, pode simplesmente observar, da piscina da cobertura do hotel o movimento cíclico do mar.
Hospedado em um pequeno Math* , perdido em meio ao hotéis, localizado perto da praia, eu refletia sobre o que via a minha volta e me perguntava se os nossos ilustríssimos turistas estavam tendo tempo de perceber algo maravilhoso que acontecia naquele local. Um brilho dourado parecia envolver toda a cidade. A forte atmosfera espiritual do lugar transmitia aos corações um amor e uma doçura indescritíveis. Eu me sentia como se estivesse derretendo de tanta alegria, êxtase e paz que aquela terra proporcionava. De manhãzinha, antes do nascer do sol, enquanto tudo ainda estava escuro, já era possível ver na praia um grande número de pessoas. Algo espantoso. Cada um com suas orações e suas preces para receber o astro-rei que estava por vir. Nessa hora, o som de um alto falante de um pequeno templo, ressoava uma melodia que embalava aquele momento mágico e me fazia recordar certos sentimentos de infância, não sei ao certo, mas algo muito familiar. O sol quando raiava no horizonte, era envolto por uma névoa cor de açafrão e o seu brilho refletia no mar que iluminava a todos. E não era só isso, as pessoas eram de uma simplicidade admirável. Vários indianos chegavam perto de mim com um sorriso aberto nos lábios querendo ser amigo. Perguntavam de onde eu era, se estava gostando da Índia, quanto tempo eu iria ficar e como eu iria embora. Em todo canto era vendido o chai, um chazinho preto com leite que eu gostava de saboreá-lo juntamente com um Bedee . Na hora do almoço comia com a mão em um prato de folha, uma comida simples, muito saborosa e muito picante. Na rua via alguns bezerros andando despreocupadamente, com cuidado tocava o seu pêlo. Ao cair da tarde, após o pôr do sol na praia, voltava para o Math e um dos devotos do templo me acolhia com carinho, pegava na minha mão, me abraçava e se mostrava saudoso com a minha partida. Todo esse brilho e alento que eu percebia, estava oculto. Parece incrível mas era isso. Estava oculto e só era alcançado através de uma atitude simples, de uma abertura para o contato humano com a população local e para as mensagens que eram comunicadas ao coração. Esse é o que comecei a chamar de turismo oculto. Que não dá para pegar com as mãos ou ver com os olhos simplesmente. Exige algo mais, exige uma auto-entrega, exige um mergulho profundo na realidade. Não adianta simplesmente contratar um guia e dissecar o lugar com sua máquina fotográfica.
No momento de deixar a Índia, inexplicavelmente, sentia uma tristeza intensa nunca antes sentida. As lágrimas caíam incessantes dos meus olhos e uma saudade insuportável abatia-se sobre mim. Só me restava agradecer. Olhava para a paisagem deixada para trás pelo trem que ia rumo à estação de Calcutá onde eu embarcaria no avião. Com as mãos juntas na altura do peito orava: Oh Índia! Obrigado! Namastê! Agradeço por seu importante legado deixado à humanidade! Que possamos no ocidente abrir-nos também para essa oculta realidade interior que tanto alento traz a nossas vidas!
Não tinha nada a oferecer a mãe Bharata a não ser a mim mesmo. Ofertei minha admiração, meu respeito e minha reverência. E pela graça de Deus, ela me carregou em seu colo e levou-me a conhecer segredos profundos que já habitavam meu coração. Me colocou em contato com nobres sentimentos, que jamais esquecerei. Namastê!
Retomando os trabalhos
Estou retomando agora as atividades desse blog, depois de um longo período de inércia, em que estive envolvido com a finalização da minha dissertação de mestrado e do projeto Linha do Tucum, no Juruá.
Agora, morando no Matutu desde abril, sinto-me impelido novamente a retomar as atividades nesse espaço virtual. O que trago para esse mês é uma republicação dos textos clássicos, introduzindo o leitor ao Bhagavad Gita e ao Yoga Sutra de Patanjali. Achei importante porque algumas pessoas que foram introduzidas na prática de Yoga comigo recentemente, precisarão desse material para começarem a se situar melhor no universo da Yoga.
A Nova publicação que trago é sobre dicas de alimentação e hábitos diários, importantes para quem vai começar uma prática mais sistemática. Para o mês de agosto, mês de Krishna, trarei para vocês arquivos de áudio especiais, com gravações feitas no templo de Goura Nitai em Teresópolis, no ano passado, durante o dia de Janmastami, ou advento do Senhor Krishna. Trarei também a programação do curso vivencial de Yoga que estamos preparando para ser realizado aqui no Matutu no mês de setembro. Fiquem ligados!
Abraço afetuoso a todos!
Namastê!
Alimentação e Hábitos Diários
" Ó Arjuna! A prática de ioga é impossível para qualquer pessoa que coma em demasia ou coma muito pouco, durma em demasia ou não durma o suficiente/ Para quem se alimenta, repousa e esforça-se de modo regulado, e que mantém horários regulados em medidas apropriadas, a prática de ioga torna-se gradualmente a fonte que dissipa todo sofrimento mundano." (Sri Gita, 6.17)
A instrução acima resume tudo o que é preciso dizer com relação aos hábitos diários do praticante. O progresso na prática de Yoga depende do ritmo das atividades diárias. O praticante deve procurar manter uma vida regulada, com horários bem definidos. Assim como o sono e a alimentação, a prática diária deve ser realizada em uma medida apropriada de modo que possibilite o progresso do praticante, porém sem sobrecarregar o seu organismo e sem comprometer os outros deveres diários.
Dicas para a prática diária
Sem ritmo, é muito difícil obter um progresso na prática de Yoga. O ideal é que a prática aconteça todos os dias, no mesmo local e horário. Ao esforço contínuo e regular dá-se o nome de Sadhana. O Sadhana é aquilo que cumprimos religiosamente todos os dias, como escovar o dente e lavar o rosto. Todo mundo possui esse Sadhana: acordar, lavar o rosto e escovar o dente. A prática de Yoga deve fazer parte do nosso Sadhana. Sem Sadhana não há Yoga.
Sem dúvida, o momento mais favorável do dia para a prática de Yoga é pela manhã, antes do desjejum. Trinta minutos de prática diária é um tempo razoável para quem tem um dia-a-dia movimentado. Por mais que a pessoa tenha muitos afazeres, nada impede que ela acorde trinta ou quarenta minutos mais cedo para dedicar-se à sua prática diária.
Para um bom Sadhana o praticante pode seguir o seguinte roteiro:
- acorda, se lava, troca a roupa, vestindo-se confortavelmente, arruma a cama e prepara o ambiente para a prática. É importante que o ambiente seja limpo, arejado e iluminado. Um ambiente apropriado é fundamental. O praticante deve eleger um canto da casa que seja limpo e organizado diariamente para a realização da prática. Um bom incenso e uma boa música podem ajudar a tornar o ambiente mais agradável para a prática. O praticante pode também estabelecer um altar na sua casa. Pode ser um cantinho, que seja limpo, onde coloca-se a foto do mestre espiritual ou de qualquer elemento que remeta o praticante à noção de sagrado, em frente do qual ele possa oferecer um incenso, fazer uma meditação ou ler um texto sagrado.
- tendo preparado o ambiente, o praticante pode esticar o seu tapete (é bom que a prática não seja realizada em contato direto com o chão) e dar início à sua prática que pode variar entre 30 minutos e uma hora. Dentro desse tempo o praticante pode incluir um trabalho de pranayama, uma pequena meditação, uma breve leitura de um texto sagrado, uma prática equilibrada de asanas e um pequeno relaxamento. À medida que o ritmo é empregado, é surpreendente como esse momentinho sagrado da prática torna-se uma fonte de saúde, equilíbrio e bem-estar no dia-a-dia do praticante.
Dicas de alimentação para o aproveitamento da prática diária
Sem dúvida, como dito acima, o progresso na prática de Yoga depende da qualidade da alimentação e do sono do praticante. O que se relaciona com horários regulados e medidas apropriadas.
Dessa forma, as três grandes dicas de alimentação são: estabelecer horários regulados para as refeições diárias, ter moderação na quantidade ingerida, não ficando nem além, nem aquém do necessário para a manutenção do corpo; e se atentar para a qualidade do alimento ingerido.
Dentre os alimentos considerados inapropriados para o praticante de Yoga o principal é a carne. Primeiramente porque fere o primeiro princípio do código de ética da Yoga que é Ahimsa, ou não violência. Alimentar-se do sangue e do sofrimento de outros animais leva a pessoa a um estado mental completamente incompatível com a prática de Yoga. Em segundo lugar, o consumo regular de carne, principalmente as carnes vermelhas, prejudica o bom funcionamento dos intestinos e ocasiona a deposição de diversas toxinas no organismo que, além dos distúrbios fisiológicos, causam o bloqueio de diversos canais energéticos, tornando a pessoa preguiçosa e enfadada para a prática de Yoga.
Recomenda-se uma dieta balanceada, livre de carnes, com reduzido consumo de açúcar, doces e refrigerantes e que combine, de forma comedida, a ingestão de frutas, legumes e leguminosas, cereais, verduras e laticínios. Optando-se sempre por alimentos frescos e orgânicos.
O consumo de bebidas alcoólicas, drogas farmacêuticas (salvo sob orientação médica), cigarro e entorpecentes também são considerados inadequados para o praticante de Yoga.
É importante deixar claro, contudo, que cabe ao praticante experimentar e observar os impactos dos diversos hábitos diários na sua prática de Yoga. As dicas brevemente apresentadas aqui têm o objetivo de oferecer alguma orientação ao praticante, porém é extremamente individual a forma como se dará o ajuste da conduta visando ao melhor aproveitamento da prática. O mais importante é estar perseverante na prática, procurando sempre aplicar a consciência em todos os atos praticados, inclusive naqueles que podem ser considerados desfavoráveis à prática de Yoga.
Bhagavad Gita
O Bhagavad Gita foi escrito perto de 3.000 (a.c). Nasceu da conversa sagrada entre Sri Krishna e o guerreiro Arjuna no campo de batalha de Kuruksetra (região do centro-norte da Ìndia). Gita significa canção e Bhagavad refere-se à forma original e pessoal de Deus. Bhagavad Gita dessa forma traduz-se por “Canção do Senhor”. É talvez a escritura mais antiga e a mais lida em toda a história da humanidade. Os ensinamentos nele contidos, se estudados sob o abrigo de um mestre espiritual genuíno, são capazes de orientar o praticante de Yoga em seu processo de auto realização e satisfação interior.
Conforme apresentação de Sua Divina graça Srila Shridhar Dev-Goswami Maharaj em seu texto de apresentação do Gita: “O Sri Gita é ativação para o preguiçoso, coragem para o covarde, esperança para o desesperado e vida nova para quem está morrendo. O Sri Gita unifica e sustenta todas as posições, seja do revolucionário, do ocultista, do otimista, do renunciante, do liberacionista ou do teísta pleno. As concepções essenciais de todos os tipos de filósofos são abordadas dentro de uma lógica clara e vigorosa – seja a do ateu dotado da mais grosseira visão, seja a do santo mais elevado. O trabalhador fruitivo, o erudito, o praticante de ioga e o devoto do Senhor, todos encontrarão aqui uma apresentação compreensível e iluminante da substância de suas respectivas filosofias, e é por isso que o livro é muito apreciado por todos.”
O contexto histórico em que se dá o diálogo entre Krishna e Arjuna no campo de batalha é retratado no Mahabharata, texto épico indiano que narra a luta dos 5 filhos do rei Pandu (entre eles Arjuna), conhecidos como os Pândavas, contra as atrocidades de Duryodhana, seu perverso primo, que, tomado por um ciúme incontrolável, almejara durante toda a sua vida tomar o reino de Pandu e colocar os Pândavas em completa ruína.
Todas as injustiças e humilhações impostas aos Pândavas pelos Kauravas (Duryodhana e seus irmãos), resultam em uma grande guerra mundial que envolve praticamente todas as forças bélicas existentes no planeta na época (cerca de 3.000 a.c).
Antes do início da grande batalha, no campo de Kurukshetra, onde reuniam-se para a guerra 64 milhões de pessoas, o célebre guerreiro Arjuna, líder de um dos exércitos, pede a Sri Krsna, para manobrar sua quadriga de forma que ele pudesse observar o exército oponente: “ Nesse momento, ó rei, Dhananjaya (Arjuna), montado em sua carruagem decorada com a bandeira de Hanuman, estava pronto para disparar suas armas. Ao ver Duryodhana e sua companhia posicionados para o combate, Arjuna tomou o seu arco e dirigiu-se a Krsna: ó Krsna! Por favor, situe a quadriga entre os exércitos, para que eu possa observar os guerreiros contra os quais deverei combater nesta batalha e que vieram lutar para a satisfação do perverso Duryodhana. (Sri Gita 1.20,21)
Quando se depara, no campo inimigo, com diversos parentes, amigos, mestres e bem-querentes, o invencível guerreiro cai prostrado no meio do campo de batalha, completamente tomado pela dúvida e por um profundo sentimento de lamentação. Queixa-se então a Krishna, enfatizando o despropósito daquela guerra, declarando por fim: “Govinda eu não lutarei” (Sri Gita 2.9). “Arjuna disse: ó Krsna! Vendo meus parentes diante de mim ansiosos pela guerra, esvai-se a força dos meus membros do meu corpo e sinto minha boca ressecar/ Meu corpo inteiro treme e arrepia-se. Não tenho mais firmeza para segurar meu arco Gandiva e mina pele queima./ Ó Kesava! Não posso me conter por mais tempo. Minha mente está desorientada, e vejo apenas sinais hostis carregados de mau agouro/ Sequer vejo algum bem em matar meus próprios parentes na batalha. Ò Krsna! Não desejo vitória,reino ou felicidade/ Ó Govinda! Qual o valor do nosso reino? Qual o propósito da felicidade e do desfrute, se aqueles para quem desejaríamos tudo isso – mestres, patriarcas, filhos, avós, tios maternos, sogros, netos, cunhados, e outros parentes – vieram hoje para a guerra, decididos a sacrificar suas próprias vidas e posses? Portanto, ó Madhusudana, não desejo matá-los mesmo que queiram tirar-me a vida.” (Sri Gita, 1.28-34)
De forma surpreendente, Krishna, seu quadrigário, amigo e conselheiro, o aconselha a abandonar a covardia e se levantar para a batalha: Ó filho de Kunti! Abandone essa covardia, pois ela é indigna de você. Ó grande herói, livre-se dessa fraqueza de coração e levante-se para a luta! (Sri Gita, 2.6). Dessa forma Krishna inicia sua ampla e elaborada resposta a Arjuna, revelando-se ao longo do diálogo como o Supremo Senhor, Mestre Espiritual de todo o universo.
No início de sua resposta, Krishna começa enfatizando a natureza da alma e mostrando o caráter transitório do mundo material e o caráter permanente do mundo espiritual, conforme se segue: O Senhor disse: Ó Arjuna, usando palavras sábias, você se lamenta pelo que não é digno de pesar. Pois aquele que é sábio não se lamenta pelos vivos, nem pelos mortos/ Nunca houve um tempo em que inexistíssemos, Eu, você, ou todos esses reis. Assim como existimos no presente, também já existimos no passado, e continuaremos a existir no futuro/ Tal como o ser vivo corporificado passa gradualmente neste corpo da infância à juventude e à velhice; do mesmo modo, a alma obtém ainda outro corpo ao advir a morte. Os sábios não se confundem com tal transformação/ Ó filho de Kunti! Somente a ocupação dos sentidos com seus objetos ocasiona as sensações de frio, calor, prazer e dor. Porém, esses efeitos são temporários – aparecem e desaparecem. Portanto, ó Bharata, você deverá tolerá-los.
Dessa forma, ao longo de sua exposição, Krishna sintetiza de forma brilhante toda a herança legada pela cultura védica ao longo de eras ancestrais, e estabelece, de forma definitiva, os princípios filosóficos de todas as formas de Yoga existentes.
Um dos pontos culminantes da narração acontece no capítulo 11 denominado Visva-rupa-darsana: A Visão da Forma Universal, quando Arjuna declarando a dissolução completa de sua ignorância em relação à natureza suprema de Krishna, manifesta o desejo ainda de ver, de fato, a Sua forma onipotente. “Ó senhor de todos os poderes místicos! Imploro que, por favor, exiba sua forma onipotente e imperecível, se Você entender que sou capaz de contemplá-la”. Krishna exibe então Sua forma universal para o atônito Arjuna que “com seu corpo tremendo em êxtase” dá início à impressionante descrição que se segue: “Arjuna disse: Ó Senhor dotado de uma forma magnífica! Em seu corpo, sou capaz de ver os semideuses, todas as espécies de vida, os sábios e as serpentes transcendentais, e ainda Mahadeva e o Senhor Brahma sentado sobre a flor de lótus. Ó Senhor do Universo! Ó forma universal! Em todas as direções vejo Seu corpo ilimitado de muitos braços, barrigas, olhos e faces – entretanto, não posso vislumbrar Seu começo, meio ou fim. Resplandecendo por todas parte com coroas, maças de combate, e armas em forma de disco, vejo sua imagem todo-iluminada e refulgente, irradiando como o sol e o fogo flamejante e, portanto, muito difícil de contemplar além de toda a imaginação. Você é a personificação da Verdade Absoluta Suprema, cognoscível por meio dos Vedas; Você é o reservatório exclusivo deste universo e o preservador imperecível da eterna religião mencionada nos Vedas. Você é certamente a eterna Personalidade Suprema, e essa é minha firme convicção. Sem começo, meio ou fim, ilimitadamente poderoso e possuidor de inúmeras armas, com olhos como o sol e a lua e a compleição como a do fogo incandescente, vejo Você cauterizando o universo com Sua intensa radiação. Nada além de você preenche todas as direções e todos os espaços entre o céu e a terra. Ó forma universal! Ao ver este seu perfil estarrecedor e aterrador, todos os residentes dos três mundos estão amedrontados. Todos os semideuses estão entrando em Você, alguns com temor, oferecendo-Lhe orações com as mãos em prece. Os grandes sábios e seres perfeitos estão lhe oferecendo orações selectas, repletas de adoração e dizendo: ‘Que toda auspiciosidade recaia sobre o universo’. Os semideuses conhecidos como Rudra, Aditya, Vasu, Sadhya, Visvadeva, os Gêmeos Asvini-Kumara, as deidades dos ancestrais, as raças Gandharva, Yaksa, Asura e Siddha contemplam Você; na verdade todos observam Você maravilhados. Você é a origem eterna de todos os semideuses e o único refúgio do universo. Você é o único conhecedor e cognoscível e a corporificação da transcendência. Ó ilimitado! Este universo é penetrado por Você.” (Sri Gita, 11.15-22,38)
Após isso, o inigualável quadrigário de Arjuna ainda dá importantes instruções sobre o conhecimento espiritual e revela o mais oculto de todos os tesouros que é o próprio afeto e estima que Ele tem por Arjuna. “Ouça mais uma vez o Meu ensinamento supremo e o mais oculto de todos os tesouros. Você Me é muito querido, e é realmente por isso que Eu revelo este Meu supremo ensinamento para seu verdadeiro benefício. Krishna deixa claro então que o verdadeiro conhecimento espiritual só pode ser obtido por meio do afeto e da devoção que a alma cultiva em relação a Deus e ao mestre espiritual, que é a única forma de despertar a boa vontade do Absoluto em favor de suas partículas infinitesimais .
No final do texto Krishna ainda instrui Arjuna a abandonar todas as formas de religião e se entregar tão somente a Ele: “abandonando todos os tipos de religião, entregue-se apenas a Mim. Eu o libertarei de todos os tipos de pecado. Portanto não se desespere”. (Sri Gita, 18.66).
Por fim o grande guerreiro Arjuna se apruma, recobrando suas forças e declara: “Ó infalível! Por Sua graça, minha ilusão foi dissipada. Posso agora recobrar minha identidade, todas as minhas dúvidas se foram e permaneço rendido a Você. Agora seguirei Sua ordem (Sri Gita, 18.73). Arjuna se levanta então para a batalha - que dura dezoito dias - na qual praticamente toda a força bélica existente no planeta é aniquilada. Os Pândavas, a quem Krishna se dispôs a proteger pessoalmente, foram um dos poucos sobreviventes dessa assombrosa guerra.
O sábio Sanjay, narrador do Gita, declara no último verso do texto: Onde quer que se encontrem o Senhor Supremo de todos os poderes místicos, o próprio Senhor Sri Krishna, e o arqueiro conquistador de opulências, o próprio Arjuna, ali mesmo prevalecerá a deusa da boa fortuna, a deusa da vitória e a virtude suprema. Decerto esta é minha firme conclusão. (Sri Gita, 18.78)
O Gita então é matéria indispensável de estudo para todo praticante de Yoga e para todo aquele que se dedica ao auto-conhecimento e à auto-realização.
Textos Clássicos
O Yoga Sutra foi escrito por volta do ano 360 d.c pelo sábio Patanjali que codificou
o sistema védico de Yoga, reunindo-o em uma escritura bastante técnica. Alguns estudiosos consideram o Yoga Sutra como um verdadeiro tratado de psicologia. A obra constitui-se de 195 versos organizados em quatro capítulos: Samadhipada, que trata da definição de Yoga e dos estados mentais característicos em Yoga e em não-Yoga; Sadhanapada, que trata da prática de Yoga, Vibhutipada que trata dos benefícios e dos riscos advindos da prática de Yoga e Kaivalyapada, que trata do processo de emancipação final alcançado através da Yoga.
Na primeira parte, o Yoga Sutra começa definindo Yoga: Yoga é a habilidade de voltar a mente exclusivamente em direção a um objeto e sustentar essa direção sem quaisquer distrações (Yoga Sutra 1.3). Dessa forma, enquanto a mente se mantém nesse estado de Yoga, a pessoa tem condição de ter uma percepção direta e verdadeira do objeto de sua meditação. Fora do estado de Yoga a habilidade de compreender o objeto é simplesmente substituída pela concepção mental desse objeto ou por uma total falta de compreensão. (Yoga Sutra 1.4)
Os cinco vrttis, ou atividades mentais que devem ser controladas para que o praticante se mantenha em Yoga são: compreensão correta, compreensão errônea, imaginação, sono profundo e memória. (Yoga Sutra 1.6). De acordo com o comentário dado pelo professor Desikachar , o predomínio e os efeitos de cada uma delas sobre o nosso comportamento e atitudes combinam-se para formar nossa personalidade.
O estado de Yoga, de acordo com o Yoga Sutra, só pode ser conseguido por meio da prática constante e do desapego. Essa prática deve ser seguida por um longo tempo, sem interrupções e com as qualidades de uma atitude positiva e entusiasmo, para que se obtenha o sucesso desejado (Yoga Sutra 1.12-14). Além disso, o Yoga Sutra destaca que o estado de Yoga também pode ser alcançado oferecendo orações regularmente a Deus com um sentimento de submissão ao seu poder (1.23). Deus é definido na escritura como o Ser Supremo cujas ações nunca se baseiam em compreensão errônea, que conhece tudo que há para ser conhecido, que é eterno, o professor definitivo, sendo a fonte de orientação para todos os professores (Yoga Sutra 1.24-27).
Dessa forma, com fé, prática constante, desapego e orações a Deus, a pessoa pode evitar os Klesas, ou obstáculos que surgem naturalmente ao longo da prática de Yoga. São eles: doença, estagnação mental, dúvida, falta de prudência, fadiga, excesso de complacência, ilusões sobre o seu próprio estado mental, falta de perseverança e retrocesso. Todos esses obstáculos acabam por causar alguns dos seguintes sintomas: desconforto mental, pensamento negativo, incapacidade de sentir-se confortável em diferentes posturas do corpo e dificuldade de controlar a própria respiração (Yoga Sutra, 1.30,31).
Na segunda parte da obra, o Yoga Sutra apresenta o Ashtanga Yoga, ou os oito componentes que perpassam o desenvolvimento da prática de Yoga (2.29):
1. Yama – atitudes para com o meio ambiente
2. Nyama – atitudes para conosco
3. Asanas – prática dos exercícios físicos
4. Pranayama – prática de exercícios respiratórios
5. Pratyahara – prática do controle dos sentidos: “Quando o praticante de ioga não está mais viciado nos desfrutáveis objetos dos sentidos do som, textura, forma sabor e odor; quando não está mais apegado a nenhuma ação buscando desfrutá-las, e tendo atingido a mais completa renúncia de todos os planos de tal ação, apenas então poderá ser aclamado como sendo aquele que verdadeiramente atingiu a ioga”. (Sri Gita, 6.4)
6. Dharana – prática da concentração mental: “Pela mente controlada por Dharana, deve-se completamente estabelecer a mente na alma. Então, pela prática gradual, removendo a mente dos objetos externos, deve-se atuar no transe do Samadhi e não pensar, nem por um segundo, em nada além da alma.” (Sri Gita, 6.27)
7. Dhyana – prática de meditação: “Ó heróico Arjuna! Sem dúvida a mente é intável e extremamente difícil de controlar. Entretanto, ó filho de Kunti, a mesma é subjugada pela prática contínua da meditação iogue na Superalma, como ensinada pelo mestre espiritual fidedigno, e pelo abandono do desfrute mundano dos sentido.” (Sri Gita, 6.37)
8. Samadhi – cultivo do estado de Yoga de completa união com a natureza do Ser Individual (atma) e o Ser Supremo (paramatma): “O estado de perfeito Samadhi, ou transe, é aquele em que a mente disciplinada do iogue obtém o desapego – até mesmo do mais leve pensamento de conotação mundana. O iogue permanece satisfeito apenas no Senhor. Tendo vivenciado a Superalma diretamente por meio de seu coração purificado, experimenta aquela felicidade eterna, perceptível pela divina inteligência da alma e destituída do contato com os sentidos e com os objetos dos sentidos – e nunca se desvia da natureza intrínseca da alma. (Sri Gita, 6.20-22)
Os Yamas e os Nyamas são considerados a base que sustenta a prática de Yoga. O Yoga Sutra estabelece cinco Yamas e cinco Nyamas, a saber:
Os cinco Yamas:
1. Ahimsa: não violência, consideração por todos os seres vivos, especialmente os que são inocentes, os que estão em dificuldade ou em situação pior do que a nossa .
2. Satya: veracidade, honestidade, boa conduta.
3. Asteya: ausência de cobiça por algo que não lhe pertence.
4. Brahmacharya: castidade ou auto-controle.
5. Aparigraha: ausência de apego por posses e prestígio.
Os cinco Nyamas:
1. Saucha: limpeza, pureza, asseio.
2. Santosha: contentamento.
3. Tapas: austeridade, prática constante.
4. Svadhyaya: prática constante de auto investigação e estudo de textos sagrados.
5. Ísvara-pranidhana: prestar reverências ao Supremo Senhor.
A prática atenciosa dos três últimos Nyamas constitui-se no processo conhecido como Kriya Yoga, e por si só leva o praticante a observar os demais Yamas e Nyamas e atingir os mais elevados estágios da prática de Yoga.